Há um ano nascia Laudelinas, uma publicação desenvolvida para o fomento das vozes femininas na sua multiplicidade de atuação artística e social. Nesta edição contemplamos mais uma vez a produção de artigos, poemas, resenhas, contos, crônicas, ilustrações e ensaios fotográficos elaborados por mulheres cis e trans de todas as regiões do Brasil.
Há um ano enfrentamos bem mais que a letalidade de um vírus e as consequências econômicas do isolamento social: somos uma nação destituída do bom senso e de empatia, governada por milicianos, abandonada pela omissão e cumplicidade partidária de algumas instituições. Assistimos ataques às minorias, a exclusão e o esfacelamento de políticas sociais e ambientais. Apesar da atitude negacionista de muitos, sobrevivemos ao desempenho vil de um governo genocida que regozija diante do caos. Se a democracia se evapora em convicções narcisistas e pentecostais, nós seguimos aos trancos e barrancos, defendendo nossa existência e as inúmeras tentativas de silenciamento e exclusão:
Sim, eu trago o fogo,
o outro,
não aquele que te apraz.
Ele queima sim,
é chama voraz
que derrete o bivo de teu pincel
incendiando até ás cinzas
O desejo-desenho que fazes de mim.
Sim, eu trago o fogo,
o outro,
aquele que me faz,
e que molda a dura pena
de minha escrita.
é este o fogo,
o meu, o que me arde
e cunha a minha face
na letra desenho
do auto-retrato meu.
Do fogo que em mim arde, Conceição Evaristo
Este é o nosso território, nosso corpo, a caixa de memórias, o encontro da palavra e da imagem na construção de identidades políticas e de resistência. Em tempos de “achismos”, intolerância, terra plana e pandemia, viver exige coragem e afeto. Amar é revolucionário e a criação artística um ato necessário para vislumbrar a esperança.
Avante, queridas!
Recife, 08 de março de 2021
Taciana Oliveira
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