Nascida em Poços de Caldas–MG, filha de ex-escravizados, Laudelina começou a trabalhar cedo e enfrentou, desde jovem, as marcas do racismo e da desigualdade de classe. Ainda nos anos 1920, mudou-se para São Paulo, onde passou a integrar movimentos sociais e clubes negros, como o Clube 13 de Maio, que reunia militantes abolicionistas e ativistas pela cidadania negra.
Mas foi em 1936, em Santos–SP, que ela inscreveu seu nome na história: fundou a primeira associação de trabalhadoras domésticas do Brasil, transformada mais tarde em sindicato. Num tempo em que sequer existia reconhecimento legal da profissão, ela já defendia acesso à previdência, contratos formais de trabalho, férias e direitos básicos.
Ao longo das décadas, Laudelina combinou atuação política com formação de base. Organizou cursos de alfabetização, encontros culturais e grupos de apoio para mulheres em situação de violência. Também enfrentou perseguições durante a ditadura militar, período em que seu trabalho foi constantemente vigiado pelos órgãos de repressão.
Sua militância nunca se limitou às causas trabalhistas. Laudelina era feminista e antirracista — sem usar necessariamente essas palavras —, e atuava de maneira transversal, unindo gênero, raça e classe em sua pauta. Sua presença era frequente em eventos e congressos que discutiam os direitos da população negra, inclusive internacionalmente.
Apesar da relevância histórica, o reconhecimento público à sua trajetória ainda é tímido. Nas últimas décadas, movimentos de mulheres negras têm recuperado sua memória, reivindicando sua centralidade na história política do Brasil. Seu nome hoje batiza centros culturais, coletivos, projetos sociais e, recentemente, a revista Laudelinas, publicação que homenageia sua trajetória como símbolo de resistência e voz coletiva das mulheres brasileiras.
O legado de Laudelina permanece atual num país onde o trabalho doméstico ainda é majoritariamente informal e onde o racismo estrutural se expressa nas desigualdades do dia a dia. Relembrar sua história é também reafirmar a necessidade de justiça social e equidade — causas pelas quais ela dedicou toda a vida.