Enquanto me debruço na elaboração da 19ª edição da Laudelinas, a Palestina é novamente atacada. Assistimos, quase inertes, a um genocídio. Uma guerra que escancara nossa incapacidade de reagir ao discurso de ódio, à limpeza étnica e ao extremismo — frio, consciente e assassino — que molda uma visão de mundo onde a violência é naturalizada. Corpos mutilados ilustram paisagens na Palestina, na Ucrânia, na Rússia, no Haiti, na Somália, no Irã… A barbárie ganha legitimidade sob os holofotes: televisionada, transmitida ao vivo nas redes sociais, a guerra virou espetáculo. Enquanto escrevo esta apresentação, Juliana é resgatada na Indonésia, já sem vida. E me pergunto: como fomos capazes de banalizar a morte? Penso na violência do abandono, na solidão que cercou Juliana, no frio que invadiu seu corpo. Penso também em Fátima Hassouna, jovem fotojornalista palestina, morta durante um ataque aéreo em Gaza. Juliana tinha 26 anos. Fátima, 25.Em 2024, foram registrados 4.676 assassinatos e 7.291 mutilações, vitimando 11.967 crianças. A negação do acesso humanitário, com 7.906 incidentes, o recrutamento e uso de crianças (7.402) e o sequestro de menores (4.573) revelam uma realidade brutal.
Os maiores números de violações foram registrados no Território Palestino Ocupado (8.554), sobretudo na Faixa de Gaza; na República Democrática do Congo (4.043); na Somália (2.568); na Nigéria (2.436) e no Haiti (2.269). Os dados são do relatório anual da ONU sobre crianças e conflitos armados, divulgado em 19 de junho de 2025, pelo secretário-geral António Guterres.
Não sei bem como continuar este texto. Em mim mora a revolta e uma tristeza profunda. Fracassamos enquanto humanidade ao permitir que o mundo se tornasse tão desigual, tão desumano.
A revista Laudelinas também se solidariza com a ministra Marina Silva, vítima de um ataque machista durante audiência no Senado Federal. Convidada para falar sobre áreas de conservação na região Norte, Marina foi interrompida diversas vezes, teve seu microfone cortado e ouviu do senador Marcos Rogério (PL-RO) que deveria “se pôr no seu lugar”. O episódio atingiu seu auge quando o senador Plínio Valério (PSDB-AM) afirmou desejar “separar a mulher da ministra”, pois “a mulher merece respeito”. Um episódio vergonhoso, que reflete a misoginia estrutural ainda presente nas instituições de poder.
Dedicamos esta edição às mulheres no Brasil e no mundo, que seguem resistindo em suas casas, nas ruas, nos parlamentos, nos campos de refugiados, nas florestas e nos territórios em disputa.
Taciana Oliveira | Editora
PS: Nesta edição inauguramos nosso espaço virtual: www.revistalaudelinas.com.br
Participam dessa edição: Adriane Garcia, Alessandra Nilo, Aline Almeida, Argentina Castro, Conceição Rodrigues, Chris Herrmann, Germana Accioly, Iaranda Barbosa, Katia Marchese, Lisa Alves, Monique Magalhães, Odailta Alves, Sandra Godinho, Silvana Guimarães, Viviane Ka e Wanda Monteiro.
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